Há trabalhos que desafiam a gente. Normalmente começo meu processo criativo a partir de uma inspiração. Mas dar aulas tem disso. Sempre me leva além de onde já conheço.
Criar a partir de um objetivo específico, pelo menos para mim, é bem mais difícil. Não é questão de simplesmente executar, mas saber me expressar por meio de uma arte que não “nasce” de um desejo ou de uma ideia. Ao contrário da inspiração que vem de dentro, criar a partir do objetivo de uma aula era uma demanda de fora para dentro.
O desafio começou na separação de materiais, porque quem conhece meu trabalho sabe que amo cores neutras. Então, me dei conta de como é fácil a gente cair na armadilha do processo criativo dentro da zona de conforto. Porque em meus materiais e recortes, encontrei poucas referências de cores quentes, que era a aula em questão.
Há duas semanas atrás eu dei uma live sobre processos criativos e estava exatamente na fase que descrevo como caos. Nada fazia sentido. Parece que todo o material em volta não se conectava. Era como ver um enorme quebra cabeça de peças que não se encaixavam.
Parei, respirei fundo e pensei que a única coisa certa para aquela obra, eram as cores quentes. O elefante fisgou meu olhar e imediatamente a conexão do elefante, cores quentes e África se formou em minha cabeça.
Eu sempre senti fascínio pela África. Pela riqueza de sua fauna, pelos sons dos tambores, pela dança das tribos e seus tecidos coloridos.
No meu imaginário é como se tudo lá fosse original, sem cidades, prédios ou carros. É aquela África romantizada e poética. A África que é mãe do planeta, pois de lá que tudo se originou.
E assim como essas camadas de construção da narrativa visual foram se formando na minha cabeça, outras camadas de cortes e recortes criaram uma dimensão nessa criação, que me agradou muito.
Aprendi muitas coisas enquanto fazia essa peça, dentre elas, foi abraçar a oportunidade de aprender com algo que realmente estava difícil para mim. Eu poderia ter criado uma composição bonita com cores quentes, mas o meu desafio era falar um pouco sobre minha visão do mundo. E acho que consegui isso.
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